quinta-feira, 6 de agosto de 2020

E no final, valerá a pena correr em círculos?


Afinal, o que você quer ser?


Quando criança meu maior sonho era ser cantora de ópera, que canta notas super altas, e que um dia eu descobri que se chamava cantora lírica. Depois quis ser flautista, depois artista, bibliotecária... tantas coisas, e hoje me vejo sendo apenas eu. Um pouco artesã, que tem olhos gigantes quando encontra um grande galho de árvore na rua e imagina no tanto de coisas que ele pode ser transformado. Já perdi as contas do tanto de peças teatrais que me imaginei fazendo, das tentativas de cantar perfeitamente e das folhas que pintei, recortei, colei e fiz uma arte que eu entendia, aquele quadro lá do quarto é uma das artes mais significativas para mim, quando em meu pior momento de crise existencial e de ansiedade eu consegui pintar com lápis de cor uma pintura de um quarto bagunçado, e muitos livros nas estantes e colei frases que diziam: Viva! Sorria! Seu tempo, calma... e diversos dizeres. Hoje me vejo assistindo filmes interessantíssimos sobre pedagogia, pois escolhi o curso porquê alguém me disse que eu deveria escolher algo da vida. No fundo da minha alma ainda sonho em ser livre, apenas livre. De ser uma cantora de chuveiro, uma jardineira amadora do meu próprio jardim e de vender umas mudinhas a R$ 1,50 cada, ou de fazer umas marmitas veganas e vender pra pessoas que trabalham dia e noite... Também de construir meus próprios móveis de madeira, pois sei usar muitas ferramentas e também vendê-los... pois infelizmente o capitalismo me pede para pagar as contas. Escrevo hoje pois a agonia de querer entender quem e o que eu sou me faz refletir e analisar minhas escolhas. Sei que de qualquer maneira vou terminar a faculdade, e vou continuar ouvindo que eu só preciso de calma e que escolhi o caminho certo... e de certa forma sei que escolhi. Serei uma professora. Será que poderei ser professora, marceneira, jardineira, cozinheira e feliz de uma única vez? 
Parando para analisar, percebo que nunca fui cobrada quando criança a ser algo. Simplesmente fui. Agradeço grandemente por ter sido livre e tão criativa, de olhar para um determinado objeto e imaginar que consigo reproduzir nele algo diferente, transformá-lo. Mesmo sendo uma criança tão amarga, repreendida e evitada, hoje sou melhor. Demorei anos para aprender que eu mudei, que agora sou outra pessoa, que sou amada por ser assim, que sou amigável, amável e muito simpática, educada e bondosa, mas também sei que os pontos negativos existem, um pouco cruel, boca dura, insensível e cínica. Quem poderia prever tantas diferenças numa pessoa só?
Escrevo agora para lembrar-me que escolhi ser eu mesma, e que posso fazer tudo o que eu quiser, e que essa agonia do medo do futuro não pode me domar. O cenário é diferente todos os dias: Ora incenso, ora velas perfumadas, ora difusor ( que eu mesma fiz, pois sou marceneira amadora rs) mas de qualquer maneira com algo queimando para liberar cheiros maravilhosos e estimulantes, e um computador ao lado, ora ligado por dias sem parar, ora desligado por semanas. Os livros que você comprou? Não se apresse em lê-los, o prazer da leitura vem aos poucos... Entenda que a vida é esse vai e vem, que as ervas queimadas no caldeirão são pedidos sinceros e que serão atendidos, mas no tempo certo. Lembre-se que um dia de cada vez não é apenas uma frase, mas é o sentido da vida... Chore pelo hoje, não pelo futuro, permita-se inclusive chorar, soluçar e desesperar-se algumas vezes, e se deixe entregar, não guarde lágrimas, largue-as todas. Mágoas não servem para nada, perdoe seus pecados pois carregá-los lhe custarão seguir em frente. Continue acordando e dando bom dia ao sol, acendendo seu incenso e indo ver se suas plantas passaram mais uma noite bem. Lembre-se que essa é você, e que talvez você mude um dia, pois és como as fases da lua, e apenas uma fase não faz um ciclo.